Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz perenizada.
Ausência - Vinicius de Moraes
Estou triste. Tive uma conversa de ruptura, ao que parece, com a minha doce Gandaia. A morena que me acompanhou e me mimou nestes 4 meses, num romance leve e insustentável que começou no metrô e se prolongou.. odeio partir, despedaçar corações, e não gosto de machucar ninguém. Mas tenho que ser honesto comigo mesmo e com ela. Quero viajar, como Ulisses, por esta Odisséia errante, fiel à lei de cada instante, desassombrado, doido e delirante. E não quero me prender à gaiola do Amor. Parti de meu grande amor, meses atrás, por prenunciar a morte ao seu lado. E agora, de novo me despeço, e a solidão me abre os braços. É como me sinto, livre, errante, tendo como companhia meus amigos, minhas sarges, o Espírito, mas só. E sobrevivo, sempre.
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