Nesta brincadeira, desenvolvemos um cérebro sensacional, formado em 3 níveis, cujo mais antigo é também o mais próximo dos genes, aquele que é o instintivo, relacionado com os impulsos básicos de agressividade e sexualidade, voltados para a sobrevivência e reprodução. Este cérebro que compartilhamos com os dinossauros e outros répteis tem milhões de anos e é o mais poderoso, o que mais influencia nosso comportamento.
O cérebro que se desenvolveu depois é o que temos em comum com os mamíferos superiores, responsáveis pelas emoções e outros afetos, e os nossos instintos sociais e gregários mais desenvolvidos como competição, liderança, rivalidade, ciúme. Esse cérebro mamífero tem poucos milhões de anos.
E, muito mais recentemente, surge o neo-córtex, a camada do cérebro responsável pelas funções cognitivas superiores, abstração e raciocínio formal. É a nossa intelectualidade e racionalidade propriamente ditas. Engraçado como Descartes diz "penso, logo existo", dando tanto valor a uma parte do cérebro que, comparada com as demais, é apenas um recém nascido, tendo alguns milhares de anos.
De fato, mulheres e homens são movidos pelo seu cérebro mais primitivo, o reptílico, aquele que, há milhões de anos, serve a um único senhor: os genes, cuja ordem é: crescei e multiplicai-vos!
Toda sofisticação humana, inconscientemente, é motivada por esses instintos mais básicos, embora, por nossa vida em sociedade, tenhamos aprendido a disfarçar nossos instintos.
O que esse papo de cérebro tem a ver com a sedução feminina? Tanto os genes de homens e mulheres são movidos pela mesma pulsão: reprodução e sobrevivência. No entanto, a natureza os dotou de sistemas reprodutores e de sobrevivência diferentes, de acordo com o gênero. Estou escrevendo generalizações absurdas, mas é só um rascunho e um brainstorm.
As mulheres têm alguns poucos óvulos com seu material genético, e precisam escolher a dedo seu parceiro sexual, que lhes garanta alinhamento com ótimos genes, além de ótimas vantagens e maiores chances de sobrevivência para ela e para sua prole. Até aí morreu Neves, até o Mystery sabia disso. O que quero dizer a mais?
Que, se para a mulher, um cara de alto valor é aquele que aumenta suas chances de sobreviver, e à sua prole, e tem excelentes genes: alto valor de sobrevivência e reprodução, um homem busca... exatamente o mesmo: uma mulher com alto valor de reprodução e sobrevivência.
Na verdade, não é só isso. O homem é promíscuo porque tem espermatozóides de sobra (já fez a conta? se cada um pudesse fecundar um óvulo, a terra seria reabitada em alguns anos), e não tem nada a perder espalhando sua semente por aí. Se faz concessões, é por considerações sociais e morais a cargo de seu cérebro mais recente, o do neo-córtex, que não tem assim tanto poder sobre seus instintos mais primitivos, regidos pelo seu cérebro réptil.
Segue-se que os homens buscam mulheres com alto valor de reprodução, que tenham rostos e corpos simétricos, sejam saudáveis e belas. E acabou a história.
Estou brincando! Se a história parasse por aqui, poucas mulheres poderiam ter chances no mundo da sedução. Mas, em primeiro lugar, tudo é uma questão de percepção, então a mulher pode aumentar suas chances evidenciando seu valor de reprodução pela forma como se veste, anda, fala, ri, se maqueia. Dito de forma grosseira e vulgar, uma bela puta seria muito atraente para um homem, porque lhe daria alto valor de reprodução.
Mas e o valor de sobrevivência? A verdade é que os homens não precisam das mulheres para sobreviver, tal como elas, pelo menos no tempo das cavernas, precisava. E lembre-se que, inconscientemente, somos regidos pelo mesmo cérebro de nossos antepassados tribais.
Mas a natureza, certamente, fez com que eles preferissem, dentre essas belas mulheres, essas ninfomaníacas sensuais, aquelas que tivessem um instinto materno mais desenvolvido, que pudessem cuidar de sua prole. Pois, se o homem é promíscuo e sai por ai perpetuando a espécie, seus genes têm maiores chances de sobreviver em mulheres mental e fisicamente saudáveis e que cuidem bem de sua prole, enquanto ele sai para caçar, liderar e conquistar o mundo. E, é claro, que cuidem bem dele quando ele volta dessas mesmas atividades.
Segue-se que as qualidades maternais, às mesmas que nosso Freud ensinou que todos nós, inconscientemente meninos crescidos, somos seduzidos, representam um alto valor de sobrevivência, não para o homem, mas para sua prole.
Ao demonstrar alto valor para o homem, uma mulher, portanto, deve sobressair seu alto valor de reprodução, de todas as maneiras que puder: com os subterfúgios da maquiagem, roupas, coqueteria, trejeitos, sensualidade.
E, ao mesmo tempo, deve demonstrar alto valor de sobrevivência para sua prole e sua casa, sendo cuidadosa, romântica, maternal, carinhosa, atenciosa, todos os traços que nós, homens, aprendemos a admirar de nossas mães em casa.
Uma outra consideração, esta proveniente da Psicanálise, nos ensina que, quando crianças, em nosso inconsciente tínhamos fantasias de competir com nossos pais para matá-los e possuir nossa mãe. Esse é o chamado complexo de Édipo, cuja solução é a aceitação da derrota ("a castração") que a figura paterna nos impinge.
Com essa derrota, a nossa solução inconsciente é nos identificarmos com o nosso pai, para que, vicariamente, de forma substituta, possamos possuir a mãe. Desta forma, em todos as mulheres que encontramos, ansiamos, inconscientemente, por reencontrar a mãe que perdemos para sempre.
Essa história edípica, além de reforçar a necessidade de a mulher que quer seduzir o homem, procurar representar, em fantasia e de forma sutil, a figura materna pela qual ele ansia inconcientemente - e, ademais, sempre ter um rival a colocar no caminho para estimular seu ciúme - tal como o menino tem sempre como rival o seu próprio pai.
O homem deve sempre imaginar que há outros rivais competindo pela sua atenção: essa emoção de rivalidade e ciúme é tão enraizada nele que ele perderia a atração se soubesse que apenas ele, e mais ninguém, deseja o seu objeto amado. Ter rivais para disputar faz aflorar, ademais, seus instintos agressivos e de competição, de que outro modo não poderiam ser satisfeitos. Isto explica os duelos, disputas e outros crimes cometidos em nome do amor por toda a história.
O mito do amor trágico entre Tristão e Isolda e, mais recentemente, o de Lancelot, o cavaleiro da Távola Redonda e a rainha Guinevere, se baseiam no mesmo complexo de rivalidade e de amor proibido, onde dois homens disputam a mesma mulher, sendo esta casada com um deles.
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