O efeito Pigmaleão

Segundo a mitologia grega, Pigmaleão era um escultor e rei de Chipre que se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Na verdade ele havia decidido viver em celibato na Ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, que haviam dado fama à mesma como lugar de cortesãs. A deusa Afrodite, apiedando-se dele e atendendo a um seu pedido, não encontrando na ilha uma mulher que chegasse aos pés da que Pigmaleão esculpira, em beleza e pudor, transformou a estátua numa mulher de carne e osso chamada Galatéia, com quem Pigmaleão casou-se e com quem teve um filho chamado Pafos.

O mito de Pigmaleão, como outros, traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas. Em Psicologia deu-se o nome de Efeito Pigmaleão ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela. (Fonte: wikipedia)

O que é interessante de Pigmalião é sua atitude de esculpir na estátua a mulher que queria. Se você quer que a mulher ou homem à sua frente seja seu amante, você precisa ver essa pessoa como tal, e, lentamente, agir como se essa pessoa já fosse sua amante. Mas não faça isso muito depressa. Como um escultor que, ao olhar a rocha bruta, já vê na imaginação a forma ideal da sua musa que tanto deseja, você deve imaginá-la como na sua fantasia: nua, carinhosa, amorosa, familiar, atraída por você. Mas, tem ainda que adaptar a realidade a você, como o escultor lentamente transforma, a cada pequeno golpe, a rocha na sua obra de arte.

Por isso, você deve começar imaginando que a pessoa à sua frente está interessada em você. Não importa se isso é verdade, você deve apenas agir como se já fosse. Sua atitude relaxada, libertina, ousada e ao mesmo tempo divertida e travessa a atrairá. Este é o grande segredo dos maiores sedutores: curvar a realidade a sua imaginação, e não o contrário. Ovídio diz que devemos estar convencidos de que toda mulher pode ser presa, e ela será. Para isso basta que armemos nossas redes. 

Da mesma forma, se uma mulher deseja que um homem se torne seu amante, o primeiro passo é acreditar ter a habilidade de conquistá-lo. Não importa a realidade, mas sua atitude sobre a realidade. Como o líder comunista Lênin, quando pregava o comunismo para as fileiras proletárias, e era acusado pelos seus opositores de ter idéias fora da realidade, ele simplesmente dizia: "muito pior para a realidade". É essa convicção, essa fé em si mesmo, que remove as montanhas, seja de um sistema econômico inteiro, seja do coração de um amado em amante.


Então, comecemos devagar em nossa Galatéia. Se formos rápidos, afugentaremos nossa presa. Ela está o tempo todo lá: nossa amante, nossa namorada, na atitude esquiva e resistente de nosso alvo. Então, para que a pressa? Gestos naturais, familiares, e uma ação espontânea e não defensiva desarmarão qualquer obstáculo.


Se ela resiste e nos diz impropérios, agimos com ela como se fosse nossa irmãzinha travessa de 7 anos, e brincamos, ou ralhamos com ela. Definitivamente não levamos a sério o que ela diz. Por trás disso, vemos nossa Galatéia, a nossa amante e namorada, por trás daquela pedra de gelo.


Ao romper o gelo inicial, começando uma conversa, naturalmente agimos como se estivéssemos diante de nosso melhor amigo. Essa ação espontânea, entremeada por sorrisos e comentários sobre o ambiente e sobre o que temos em comum, é o nosso trilho de onde não devemos nos desviar. Descubra os assuntos em comum. Fale daquilo que goste, e que ela também goste. Se falar de algo que não gosto, apenas ela, o assunto será artificial e não me dará prazer. Acabará morrendo. Por que diabos vou ficar falando com alguém conhecido sobre algo que não gosto? Não se age assim com melhores amigos. Com eles se fala daquilo que têm em comum, e isso pode ser festa, esportes, esoterismo, natureza, algum assunto interessante, algo que partilham. Descubra!






 Ao mesmo tempo, sempre assumiremos que ela está interessada em nós. Não interpretaremos nenhum de seus silêncios, reserva, esquivas, como desinteresse, mas como charme, como flerte de sedução. Essa interpretação a nosso favor é legítima, porque não lemos pensamentos. Nunca teremos acesso real ao que o outro pensa. Logo, é permitido que possamos imaginar o que quisermos, interpretar seu comportamento como Pigmaleão, que olhava naquela estátua fria de mármore sua amante.

Por fim, chega ao ponto em que olhamos para nossa Galatéia, ainda estátua, como se ela fosse nossa amante. Isso também é gradual. Geralmente, ocorre quando já estamos a sós com ela, e podemos dar plena vazão a nossa conversa, a nosso olhar, toque, proximidade e voz sedutoras. 


É a hora de derreter nossa estátua com nosso desejo. É esse olhar, voz, toque e proximidade solar, cheio de tesão e sensualidade, que irá dar os golpes finais em nosse estátua, para dar a ela o aspecto de amante que queremos e esquentar sua pele, antes dura. Nossa maior arma é nosso desejo. Por isso, é imprescindível que, antes de conquistar, já tenhamos sido conquistados, estamos em fogo pelo nosso objeto de amor.


E qual foi o fim da história? Pigmaleão desejava tanto a "estátua", e assumia tanto aquela sua imaginação sobre ela como real, que Vênus, a deusa do amor, o agraciou transformando a estátua em mulher de carne e osso: a adorável Galatéia. Esse é o fim do sedutor: de tanto que acredita que aquela estátua fria e resistente é sua amante e tratá-la como tal, o próprio Amor e as deusas se encarregam de contagiar essa "estátua" com o amor.

Viva Galatéia!