Tempo é tudo, aliás, quase tudo!

Bom, de uns meses pra cá botei na cabeça que irei dar a volta ao mundo num veleiro quando terminar minha faculdade (ou até antes, se tiver experiencia suficiente). Dar a volta ao mundo velejando é unir o útil ao agradável. Extremamente prazeroso e extremamente barato.

Tava lendo o livro “Aventuras no mar – Andanças, amores e peripécias de um velejador boa praça” do Helio Setti Jr. Um gajo que fez exatamente o que eu quero fazer. Deu a volta ao mundo sem ter data pra voltar, conheceu uma porrada de lugares e ainda arranjou uns amores no meio do caminho.



Antes eu ficava me perguntando como me bancar numa viagem de veleiro. Depois de que li esse precioso livro (um dos melhores que já lí) minhas dúvidas sanaram. O cara se formou engenheiro pela USP, tem mestrado e não sei mais o que. Mas durante a viagem sua formação não servir pra quase nada. Virou pedreiro, pescador, garçom e outras malícias pra ganhar uma grana e comprar o seu arroz com feijão.

Mas já desvirtuei pra cacete do assunto. Quero postar aqui uma passagem do livro do Helio que lembrei quando li o post do Giacomo. A passagem é grande mas vale MUITO a pena ler.

”Você! Você ai que está sonhando com a aventura mais louca, mais impossível, dou um palpite (porque conselho não te dou): vá, vá com tudo, e só lhe digo que no fim do arco-íris você não vai encontrar o pote de ouro. Melhor do que isso, é no caminho que você vai se deparar com o inédito, com o inersperado, com o nunca imaginado. Você vai subir muito alto.

A aventura é uma aventura.

Se os aventureiros não se aventurassem o mundo seria mais chato e pobre de emoção. Se Colombo não resolvesse navegar até o “abismo”, os babacas sérios não iam descobrir nada. O importante é se arriscar.
Aquele que procura a segurança e a estabilidade será sempre um médio. Aquele que sonha, que inventa, que se ARRISCA é o que faz tudo ir pra frente. Sem os despirocados, o mundo ia ser um lugar muito chato.

(...)

Tenho certeza de que tem gente aí, bem no meio do congestionamento do trânsito, dentro do carro, cheirando fumaça. Esse é mais esperto: conseguiu sentir o cheiro do perfume da flor em Cubatão. Eu fui para o roseiral aprender o aroma.
Acredite em mim: ser feliz, depois que você descobre o truque, é moleza. Só que pra descobrir o truque precisa estar muito atento. Eu estava num lugar paradisíaco (Ilhas Solomon). Você que tem horários, responsabilidades, tarefas, obrigações, está num campo muito mais árduo. Sua vitória é muito mais difícil.
O que descobri estava muito óbvio, muito perto de meu nariz. Se fosse cobra, mordia. Mas é um jogo interessante. Atéo instante anterior à descoberta, a possibilidade de alcançar está longe, no infinito. No instante em que você descobre, percebe que ela bate nos calcanhares.

Não tenho fórmulas, não tenho padrões, tudo é certo, tudo é errado. Cada cabeça tem seu norte.

Só sei que estava feliz e descobri o TEMPO, eu, Helio, que havia sido engenheiro, bom aluno, mau aluno, católico (de comungar e tudo, toda sexta-feira na escola, depois é claro de confessar meus horrendos pecados para o padre. Grandes pecados, eu, com nove anos?!) agora nao era nada. Eu simplesmente era eu, o eu do momento.
Vou colocar de uma maneira mais simples. Antes, meu tempo mais longo de prazer era medido pelo tamanho de umas férias.

Trabalhamos?

Sim. Logo um mês por ano é o que nos é dado de férias, para descanso e lazer. Falando matematicamente, 1/12 de sua vida para o lazer e o resto para o trabalho. Por que? Por que não pode ser divertido o tempo todo? Por que eu não posso ter uma atividade que me dê prazer e sustento e que não me faça ficar consultando o relógio à espera da hora para ir pra casa? Por que?

Pela primeira vez na vida senti prazer e não me senti culpado por isso. Pela primeira vez eu gozava de todas as maneiras e não achava que pecava. Pela primeira vez, não abri mão de uma vírgula sequer do que eu queria.
Never give an inch.

Não poupei tratos pra mim. Eu era eu, muito honesto comigo, e o padrão também era eu. As regras, que nem existiam, eram de minha autoria. Eu queria muito passar isso pra você que lê: que eu me conheci, que eu me encontrei, eu que fui feliz. O truque todo está no TEMPO! Antes, como eu disse, o limite do prazer eram as férias/mês. Um mês acaba logo, tem data certa pra terminar, você não pode, pelas regras em vigor, ficar um dia mais. Isso foi, um dia, meu máximo de tempo.

Lá nas Ilhas Solomon, porém, me vi com meu tempo infinito – um minuto, um ano, um dia, a decisão era minha, eu era absolutamente dono do meu tempo, o tempo passou a ter conotação de infinito, de propriedade minha sobre ele. Ali, naquelas ilhas, remotas, lindas, eu percebio e descobri que o meu TEMPO era meu e só.

Nesse dia descobri que havia achado o lugar mais lindo do mundo. Esse lugar era eu mesmo, o eu verdadeiro, o eu honesto com minha consciência. Nessa ilha aqui dentro não havia lugar para o ruim, para o pecado, para a mentira. Que bom descobrir que eu era bonito, que bom ver o Helio grande. Honesto e sincero, que bom ver o Helio contente com ele.

Lembre-se, tudo isso surgiu num momento em que eu fazia, sem restrição, exatamente o que eu queria. Esse é o truque. O dia em que o fim de semana o atrapalhar, for desnecessário, pode saber que é por ai. O que é bom todo dia, n!ao precisa de licença-prêmio.

Prazer é bom e não é pecado.

Eu me descobri no momento em que assumi que era vagabundo e não tive remorso. Cá entre nós, eu era um vagabundo dos mais competentes. Estava tão bom que sonhávamos, todo dia, sabe com o que? Com o momento presente, com Avi Avi, com o barco, com o copo de água tomado no barco.

Sonhar é bom e necessário, mas estar realizando o sonho garanto que é melhor. Viver é melhor do que sonhar. Afinal, a vida foi feita para ser leve, gostosa, prazerosa, honesta e acima de tudo aproveitada.”



Detalhe, se não deu pra reparar nesse trecho, a vida do cara era extramamente simples. Ele não tinha uma fábrica de dinheiros funcionando pra ele, como o Tim Ferriss tem, e mesmo assim mergulhou nos lugares mais fodas do mundo. Ele não tinha negócios na internet pra ganhar dinheiro e mesmo assim surfou as melhores ondas do planeta. O que ele tinha era alguns dólares pra caso o veleiro dele quebrasse. O cara mal tinha dinheiro pra comrpar cerveja, pra baratear ele fazia a própria cerva dele no veleiro. Sua roupa mais cara devia ser uma camiseta e um calção de 10 reais cada um.

Isso ai, simplicidade, vai virar assunto pra meu próximo post.
Por enquanto é só,
Carpe Vita!