Preguiçosamente, continuei minhas interações. Aparentemente, esta missão é mais fácil do que a anterior, porque antes se tratava de uma interação completa, 50 ao todo, e aqui basta eu relatar uma auto-expressão, mesmo sem resposta. Mas percebi que não é bem assim. Falar de mim, na perspectiva de mundo de Giacomo, com um estranho na rua, não é tão fácil. Falar alto os próprios pensamentos, mesmo que pareçam ridículos, é um exercício e tanto. Afinal, se é meu, tem valor intrínseco. Eu sou a PU.
Foram tantas interações que me cansaria, e a vocês, enumerá-las uma a uma. Nem me lembro! Vou contando o que me vem a memória de mais interessante e inusual.
No sábado à noite, depois de 20 chopps e naguile em casa - parti pra Bukowsky com o Artista e seu irmão, e estávamos todos numa vibe tranks de papear, mas ainda conhecemos um grupo de meninas naquele lounge que adoro... uma delas queria me pegar, mas não rolava química e acabamos nos tornando amigos de infância. Não fiz muitas interações, mas me diverti muito.
Conheci, no domingo, duas meninas super bacanas na praia do Leme, enquanto ia tomar um sol. Era um absurdo, eu ia ver minha família a 1 hora de Copa, sem tirar uma casquinha do sol??? NUNCA!!! Falei com o dono da barraca, sorri para a menina antipática debaixo da barraca, e conheci um bando de flamenguistas que tinham vindo ao Rio só pra ir no Maraca ver o Mengão meter um a zero no Foguinho.... Ficamos pegando os jacarés, na verdade crocodilos, porque o mar estava de ressaca, e, soube depois, impróprio pra banho...
Ao sentar com minha barraca na areia, estava perto de uma loira tijucana, nos seus 30 e outra morena do Chachambi, acho que na mesma faixa balzaca. Começava sempre relatando algum pensamento que me vinha na hora, fosse a praia cheia, o dia azul anil, os ambulantes na rua... a auto expressão faz milagres. Papeamos por horas, elas me ensinaram os segredos do bronzeado, falamos das diversões de todos, falei da minha ex, da festinha em casa domingo passado... há um prazer inerente em falar dos próprios sentimentos, e a autenticidade gera uma reação autêntica. Quando me abro, gera-se uma inércia para que o outro também se abra.
Ficamos amigos íntimos, trocamos telefones e até combinamos uma festinha lá em casa dia desses. Depois, ainda vi o MENGO arrasar.
Na segunda, puxei assunto com uma gata escultural quando ia tomar um chopp com um amigo no Shopping. Chamei-a pra ir comigo, mas ela riu e disse que ia estudar... Acabei enchendo a cara com meu amigo que acabara de ser demitido... e choramos as mágoas juntos, afogados em álcool. O louco tentava me convencer de que a ditadura era a única saída pro Brasil... o papo ficou filoalcoólico...
Fico aqui imaginando o que os leitores mais céticos devem pensar de mim. Alguns PUAS que ainda têm paciência de me ler, devem comentar: "esse cara fica abrindo velhinhas e caras na rua... está perdendo tempo. Onde quer chegar?" Ou uma pessoa exotérica, não iniciada (rs) deve imaginar que deve ser uma experiência antropológica insólita. Ou coisa de maluco...hehehe Mas eu vou dizer que está sendo uma experiência incrível. Estou adorando. E me sinto crescendo... Hoje, quando fazia uma caminhada sozinho pelo próprio bairro, caminhando por uma rua desconhecida e puxando assunto com estranhos, me senti de repente muito bem por poder fazer conexões reais com pessoas de forma fácil. Acho que é dessa naturalidade em tocar as pessoas e se abrir a elas que se trata o ser carismático. E isso é maior que a PU. É ser mais rico e humano, e é claro que os relacionamentos afetivos ganham com isso...
Fiquei encantado hoje com o tal parque estadual do Chacrinha, ao lado de minha casa e que eu não conhecia. Um lugar com trilhas de caminhada e vias de alpinismo, alguns aparelhos de ginástica e um parque de crianças. Excelente opção para passear, relaxar e, quiçá, namorar... Eu chequei lá ao papear com uma menina numa subida íngreme, depois que um porteiro - que eu comentara que parecia irmão do porteiro do meu prédio - dizer que tinha um parque no fim da rua. Ansioso por conferir a descoberta, comecei a falar com a apressada e ofegante garota que subia o morro, perguntando do parque. Ainda troquei umas palavras e cheguei lá, embasbacado. Conversei um pouco com o vigia, perguntei como era e o que tinha, e fiquei imaginando escalando aquela rocha íngreme, o visual lá de cima.
Começou a chover e isso foi motivo para papear com umas dez pessoas, sem sacanagem, no caminho até em casa. Pedi carona no guarda-chuva rosa choque de uma garota de saia idem, e é claro que tive comentar esta curiosa combinação. Falei com porteiros, lamentei minha sorte para senhores e velhinhas passando de guarda-chuva, ou para um japonês mal encarado no ponto do ônibus. Muitos riam, outros respondiam, alguns se lacravam... e eu me divertia, e me molhava até chegar em casa e voltar para os doces braços de Venus de Milo e aos famigerados livros. Essa tese me mata.
Agora, estou feliz porque vou pra Lapa ver minha irmã e amigos, pois to cansado de estudar, ou vou encontrar a vizinha gostosa que mora ao lado, que quero muito namorar. De qualquer forma, volto pra casa cedo. Preciso acabar com a tese.
Nossa, pensei, a rocha do meu lado, a via de alpinismo, e só tô conhecendo porque peguei um caminho diferente. Não é isso ser carismático? Quantas pessoas vou conhecer, quantos mundos, quantas mulheres, só por seguir vias alternativas?
Um comentário:
mas oq eh a vida se não "vias alternativas" não eh?
pegaremos todas as vias sem nenhum atalho!
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